segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sementes do Mistério


Se a verdade é a resposta
Por que o engano
A falta de honestidade
O crime insano?

Se aprendermos perdoar
Por que tanto rancor
Tanta vingança, estratégias para matar
Tanta maldade: ele deve pagar, sofrer e chorar?

Se somos inteligentes
Então onde está
A capacidade de perceber, que é preciso amar
Deixar bobagens de lado e juntos caminhar?

Até quando vamos ficar
Esperando um milagre que não vai chegar?
Se queremos paz, devemos plantar
Sementes do mistério, que tudo faz brilhar

Se vive eternamente a esperança
Vamos então desfrutar
Buscar seus frutos, para a vida melhorar
Amar o outro, sorrir, buscar o que HÁ

Se o sonho existe
Não faz sentido desanimar
Enquanto vida existir, vale a pena acreditar
Que as contradições vividas, à felicidade nos guiará.
.
(Ir. Isaac Oliveira, CP)

Àquele Semeador...



“Um Semeador saiu a semear” (Jo 4,3).

Uma das mais belas imagens que nos apresentam os Evangelhos é aquela de Jesus que ensina às pessoas. Na perícope de Mc 4,1-9, Jesus está ensinando e logo se junta uma multidão ao seu redor. Por isso ele entra numa barca e, sentando-se, contempla cada um dos presentes. Certamente ele percebeu que aquelas pessoas tinham sede de sua palavra. Seu olhar sereno e amoroso encontrou-se com olhares famintos de atenção, de amor, de carinho, de uma palavra verdadeira e de acolhimento. Afinal, não eram poucos os que falavam, como hoje, em nome de Deus.

E Jesus fala de um Semeador que saiu para semear: Ele tem uma missão! Portanto, todo o seu agir será para cumpri-la e tudo quanto o atinja ou favoreça, será por esta sua missão. Jesus não diz se será ele vitorioso – o que importa é a razão pela qual ele saiu. E, neste caso, foi para semear. E assim o fez. Porém, parece que displicentemente. Perceba que, diz o texto, que uma parte caiu “aqui”, outra “ali”, e assim por diante. Mas todo homem do campo sabe que se deve preparar terreno para só depois e observando o “cio da terra”, depositar as sementes. Então, por que este lança sementes em todo terreno pelo caminho?

O texto em questão inicia e finda a fala de Jesus com os verbos: “escutar” e “ouvir” – o primeiro como quem adverte antes de dizer algo extraordinário: “Escutem...” o que vai ser dito é muito importante. Imaginemos que uma multidão não é fácil de se conter. É um empurra-empurra, é aquela falação e, em se tratando de pessoas que queriam ouvir um profeta, ou curador, ou agitador – pois eram muitos e variados os motivos que levavam a Jesus – deveriam ser muitas as discussões sobre quem ele era e o que deveria fazer. Mas é nesse contexto e por isso mesmo que a perícope referida termina com o verbo “ouvir”, numa frase que por si só já se configura como uma parábola emblemática, repetida também em outras situações: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”
 

Portanto, ouçamos o que ele diz à nossa alma sedenta de seu semear... Primeiro nos coloquemos à beira do caminho. E quem é que vive à beira do caminho, às margens da sociedade e, não poucas vezes, longe de nossas relações e do nosso território de evangelização? É isso mesmo! Somos a “criança de rua”, a mãe de filhos nos pontos de ônibus, o doente abandonado e sem tratamento, o deficiente, o marginal, a prostituta e tantos outros do “lado de lá”. Somos os sem alma..., sem dignidade..., sem nada. Esperamos aquele que passa, aquele que semeia. Somos terrenos ávidos por ser fecundado e só aquela palavra nos sacia e alimenta – mas a nossa oração não é coisa do dia-a-dia, a celebração é cansativa e a Bíblia só serve para enfeitar o móvel lá da sala; nossa fé não tem raízes profundas, é frágil; não resiste aos pássaros da TV, das revistas, das festas e de qualquer outro “passa-tempo” que devoram cada semente caída em nosso coração, ainda que quiséssemos que fosse diferente.

Outras vezes e a pesar de um coração pedrificado pela incredulidade e má vontade, algumas sementes nos são proclamadas. Mas quede o perdão? Quede o amor pelo irmão? Quede aquela amizade sincera? Quede a caridade? Quede aquela palavra de acolhimento? Quede aquele olhar com o qual Jesus ganhava o amor de quem por Ele era mirado? Ficou tudo na superficialidade, ficou tudo no raso poço de águas sujas pelas picuinhas e fofocas do dia de cada dia igual a ontem.

Houve também uma outra oportunidade e não tivemos a sabedoria das rosas que, não obstante os espinhos, ultrapassa-os e além, e por cima deles, desabrocham em beleza e perfume. E quem não floresce, também não dá frutos!

O Semeador, porém, não é de se deixar “mofinar”, pois, sabe que terra é para se semear, assim como o homem foi feito para amar. E como disse o profeta Isaias, “a palavra de Deus não retorna sem realizar seu ofício” (cf. Is 55,11) que é o de tornar as pessoas mais conscientes do amor do Pai e, por isso, somos irmanados no amor Trino. Conscientes deste mistério nos tornamos terrenos onde se colhem muitos celeiros a cada safra. E não apenas quantidade, mas sobretudo a qualidade do que nos tornamos na escuta da Palavra é superior a tudo – o trabalho, o estudo, a missão, as injúrias, as perseguições, tudo é vocação – Tudo vale à pena por amor àquele Amor... Por amor àquele Semeador...

“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Contemplação da Cruz








Ao pé da tua cruz
Encontro a minha estrada
E sei que é quase nada
O que tenho feito por ti

Teu amor me traduz
Me encontro em tua Cruz
Redimido pelo amor
Amado por meu Senhor

Quantas vezes por aí
Perdido, fora de mim
Não te experimentei
Fraco, sozinho fiquei

Meu Amor-Crucificado
Permaneça ao meu lado
Ensina-me no beijo da cruz
Para onde teu amor conduz

Com todos os que te seguem
Faz com que eu não te negue
E seja fiel por tua luz
E te seja fiel até a cruz

Sou teu, não posso negar
Contigo vou a qualquer lugar
Minha vida é só para ti
Pois me amaste até o fim
.
(Ir. Isaac Oliveira, CP)

Obra do Amor de Deus

“A Paixão de Cristo é a mais estupenda obra do Amor de Deus”
(São Paulo da Cruz).


É à sombra do Amor de Deus que se encontra o Porquê do chamado divino que ousamos responder como aprendizes deste mesmo Amor. Não sabemos bem por onde, mas como discípulos que muito têm a aprender, arriscamos os primeiros passos. Hora confiantes, hora vacilantes; abandonamo-nos a quem seguimos. E mesmo quando no colo, pensamos caminhar a passos largos.

Procuro não entender tudo o que acontece no conduzir da vida, para não perder o essencial das entrelinhas que se apresenta apenas para quem perde-se em contemplação de coisa qualquer, sem pretensões de ser alguém importante o bastante para ser visto e ouvido por todos. Como diz o grande poeta Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro... Sê tudo em cada coisa. Põe quanto és em tudo que fazes...” Com ele reflito na busca do que há em mim e em cada um de nós: maior seremos, quanto menos nos importarmos com isso. Menor seremos, quanto mais subirmos à montanha, pois que ficamos menos visíveis quando mais distantes dos olhos dos outros.

O mais importante é jamais perder de vista aqueles olhos que nos olharam e, contemplando a nossa existência, derramou-se feito um óleo de puro nardo sobre nós, chamando-nos para si e em seu amor amou-nos até o fim. O Amor Crucificado nos indica para onde devemos subir: para o alto do Calvário, se necessário, para salvar um irmão. Nunca, jamais, por amor próprio ou por pura exaltação.

Neste tempo favorável o convite é claro: que nenhum irmão vá para o Calvário sem a nossa companhia! Da mesma forma, na alegria daquele Primeiro Dia, ninguém se afobe em agonia, nem trame chegar mais cedo para ver o rolar da pedra, pois correrá o risco de não vê-lo, visto que se encontre com os que para trás ficaram.

Estas palavras mal escritas e bem pensadas, querem ser de Paixão e de Ressurreição. Ainda, de saudade e de liberdade. Se te fez refletir sobre a grandeza do que és e do chamado que te foi feito, já cumpriu seu destino. Pois, o fim de cada palavra humana é ressoar no interior de nós e perder-se junto com os perfumes floris-efêmeros dos jardins.

No Amor Crucificado,
.
(Ir. Isaac Oliveira,CP)